Início.
Em uma noite nebulosa e gelada, dois amigos andavam apressadamente por uma via movimentada ao leste da cidade de Calaham. O primeiro era baixo, provavelmente um anão, de cabelo castanho, olhos verdes e pele avermelhada pelo sol. O segundo, um elfo mais alto que o comum, loiro de olhos negros e de aparência muito nova.
Olhando de um lado a outro da rua se via comerciantes e peregrinos de toda Telbraie. Muitos ladrões rondavam aquele local também, a procura de viajantes despreparados e sozinhos.
Os dois amigos não procuravam nada naquela feira, e sim uma pequena taverna que se escondia atrás das inúmeras barracas, queriam histórias.
Fingindo procurar alguma coisa ali, a cada dois metros que andavam eram parados pelos comerciantes que insistiam em vender-lhes algo, foram oferecidos desde ervas medicinais a armaduras de couro de dragão.
Ao fim da rua avistaram a placa “equum aurei” que indicava a entrada da taverna. Já na porta, observavam receosos a entrada, sua soleira era ornamentada com unicórnios e cintilava coberta por bronze e ferro.
Tomando coragem, entraram silenciosamente de cabeça baixa e se sentaram em uma mesa ao canto perto do banheiro. O local tinha aparência calma mas as histórias de brigas que aconteciam ali eram muitas.
Logo uma meio-ork velha se ofereceu para anotar o pedido.
Logo uma meio-ork velha se ofereceu para anotar o pedido.
– Queremos falar com Rannan – pediu o mais alto – Ah! Pode trazer duas cervejas de avelã também, por favor.
Ela caminhou em direção ao balcão e se debruçou sobre ele falando no ouvido de um homem que estava enchendo as canecas de vinho. Ele parou um instante chamou alguém e foi até os jovens.
– Olá – disse o homem – o que vocês querem com Rannan?
– Ficamos sabendo que ele ficou doente, e que talvez não sobreviva por muito mais tempo, nunca tivemos a chance de escutar suas famosas histórias...
– E pra que tanta curiosidade? São apenas histórias bobas que surgiram de sua imaginação fértil.
– Ó senhor... Queira me desculpar, mas essas palavras profanas que dirige as histórias, são mentirosas, ele é o único que sabe de um passado que todos que já habitaram estão mortos. Gostaríamos de escrevê-las com a permissão dele, é claro, e passá-las adiante. As histórias da origem de Telbraie são de interesse de todos.
– Pois bem, boa sorte, vários são os ardores que ele está enfrentando e com dificuldade conseguirão retirar algo da boca dele que não lamentações. Sigam pela escada externa e entrem no corredor a direita, o ultimo quarto é o dele.
O homem se retirou e voltou a encher as canecas de bebida. Em seguida a garçonete trouxe suas cervejas que engoliram em dois goles. Porta a fora, os dois amigos subiram as escadas sem delongas e bateram a porta.
– Entrem – uma voz delgada e fraca respondeu.
Dentro do quarto, podia-se ver pouco, havia somente uma luz fraca saindo da janela coberta por uma cortina amarelada, vários vasos e frascos cheios de ervas estavam sobre uma mesa de canto, o velho estava deitado em uma cama pequena com os pés para fora do cobertor curto.
Caminharam até ele vagarosamente tentando não fazer barulho no assoalho de madeira. O velho era um ork, pálido, de barba curta, olhos vermelhos, dignos de uma raça pura.
– O que desejam meus filhos? – perguntou calmamente.
– Olá Rannan – sussurrou o jovem mais baixo maravilhado por estar conhecendo seu ídolo – ouvi falar de você desde pequeno e cresci com suas histórias.
– Concordamos que não faz muito tempo – disse o elfo e riram, o anão corou.
– Pois bem, e o que os traz aqui só agora? A oportunidade de talvez ouvir minhas histórias pela primeira vez e talvez a ultima? – todos ficaram em silêncio – bobagem! Não precisam se preocupar! Sei de meu péssimo estado, já vivi o bastante e sei que minha vida chega ao fim, mas não temo a morte, talvez pudesse até desejá-la já que quase todos que amei não estão mais aqui.
– Ora não diga isso! Vamos, tantas batalhas vencidas para desistir da mais importante? – disse o tolo anão.
– Mas essa batalha que falamos se difere das outras, assim que ninguém pode vencê-la, é melhor esperar e rezar para que tudo acabe logo.
Os jovens se calaram por um instante e mexendo a cabeça para tentar se livrar do pensamento o elfo diz:
– Por favor, mudemos de assunto, diga-nos, como foi a origem de Telbraie...
– Sim, começamos logo que a história é longa e o tempo fica curto.
Com um gesto o velho pediu para os jovens se acomodarem em volta da sua cama.
– O tempo não existia e o limbo predominava na vida dos Deuses, estavam preparando uma peça nova, o grande teatro de nossas vidas.
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